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O paradoxo das primeiras vezes

O paradoxo das primeiras vezes

As primeiras vezes têm algo de especial. Como se costuma dizer, sou mãe de primeira viagem e, realmente, tem sido uma viagem incrível e por vezes atribulada. Mas é normal porque,como vim a descobrir, as primeiras vezes também têm algo de agridoce.

Este mês celebro o meu aniversário, pela primeira vez enquanto mãe. Esta pequena efeméride fez-me pensar em primeiras vezes. Em particular, na primeira vez em que me apercebi que a minha pequena criatura, estava a crescer. Ela tinha 5 dias de vida e eu estava a mudar-lhe uma fralda, coisa que acontece muito aos 5 dias de vida. A certa altura, dei um leve toque no coto umbilical que, de repente e sem aviso, se desprendeu do corpo da Aura. Depois de um gritinho histérico da minha parte – que fez com que o pai aparecesse logo na porta do quarto a perguntar o que se passava – lá me acalmei. Estava tudo bem com ela, que continuava no seu pequeno mundo enevoado, mas eu tinha acabado de ter o que a senhora dona Oprah chamava de momento ‘Ha, Ha’, ou seja, tive uma revelação. O coto umbilical caiu e o que ficou para trás foi, não só uma espécie de umbigo com uma ligeira hérnia, mas também a consciência de que ela tinha acabado de crescer diante dos meus olhos. Um momento irrepetível que, finalmente, materializava a velha e cansada frase ‘Eles crescem tão depressa’! Aquela frase não existe porque não queremos que eles cresçam, num esforço teimoso de evitar o futuro. Existe, sim, porque temos dificuldade em aceitar que algumas coisas passarão a fazer parte do passado. Aquela era a primeira vez que a minha bebé perdia o coto umbilical. Era também a única, visto que a minha filha não nasceu com vários umbigos, mas para efeito deste texto deixem-me dizer que foi a primeira vez. Ora, todos sabemos que as primeiras vezes são especiais. A História não se faz de segundas e terceiras vezes. Alguém sabe quem foi o segundo navegador a fazer o caminho marítimo para a Índia? E o sétimo Homem a ir à Lua? Pois! E o ditado diz ‘Não há amor como o primeiro’, ainda que estejamos destinados a ficar com o quarto ou o quinto. Idem para o primeiro beijo, o primeiro carro, a primeira vez… (piscar de olho maroto). O que eu também descobri foi que as primeiras vezes são também últimas vezes. São um ‘Olá’ e um ‘Adeus’ ao mesmo tempo. Cada novo som, brincadeira ou habilidade da Aura é também uma despedida da sua bebezisse. Com isto não quero dizer que gostava que ela ficasse bebé para sempre, até porque… Fraldas!! Certo?!? Mas quer dizer, sim, que, cada momento, cada primeira vez é preciosa, por mais mundana e previsível que seja. Talvez por tudo isto eu tenha esticado a minha licença de maternidade e as minhas poupanças ao máximo para estar em casa e assistir ao máximo de primeiras vezes possível. Para me ir despedindo aos poucos e para estar cá para cumprimentar a minha bebé, cada vez mais crescida. Sei que, inevitavelmente, irei perder algumas das suas estreias, mas para já posso ir adiando esse momento e apreciando o dia a dia à luz dos olhos da minha filha: como se visse tudo pela primeira vez.
PS – Admito que há uma primeira vez pela qual esperamos ansiosamente cá em casa: a primeira vez que a Aura decida dormir 8 horas seguidas. Resta-nos esperar…

 

Luísa Barbosa
Apresentadora e animadora de rádio

 

Publicado em 22 Fev. 2019 às 23:26

As primeiras vezes têm algo de especial. Como se costuma dizer, sou mãe de primeira viagem e, realmente, tem sido uma viagem incrível e por vezes atribulada. Mas é normal porque,como vim a descobrir, as primeiras vezes também têm algo de agridoce.

Este mês celebro o meu aniversário, pela primeira vez enquanto mãe. Esta pequena efeméride fez-me pensar em primeiras vezes. Em particular, na primeira vez em que me apercebi que a minha pequena criatura, estava a crescer. Ela tinha 5 dias de vida e eu estava a mudar-lhe uma fralda, coisa que acontece muito aos 5 dias de vida. A certa altura, dei um leve toque no coto umbilical que, de repente e sem aviso, se desprendeu do corpo da Aura. Depois de um gritinho histérico da minha parte – que fez com que o pai aparecesse logo na porta do quarto a perguntar o que se passava – lá me acalmei. Estava tudo bem com ela, que continuava no seu pequeno mundo enevoado, mas eu tinha acabado de ter o que a senhora dona Oprah chamava de momento ‘Ha, Ha’, ou seja, tive uma revelação. O coto umbilical caiu e o que ficou para trás foi, não só uma espécie de umbigo com uma ligeira hérnia, mas também a consciência de que ela tinha acabado de crescer diante dos meus olhos. Um momento irrepetível que, finalmente, materializava a velha e cansada frase ‘Eles crescem tão depressa’! Aquela frase não existe porque não queremos que eles cresçam, num esforço teimoso de evitar o futuro. Existe, sim, porque temos dificuldade em aceitar que algumas coisas passarão a fazer parte do passado. Aquela era a primeira vez que a minha bebé perdia o coto umbilical. Era também a única, visto que a minha filha não nasceu com vários umbigos, mas para efeito deste texto deixem-me dizer que foi a primeira vez. Ora, todos sabemos que as primeiras vezes são especiais. A História não se faz de segundas e terceiras vezes. Alguém sabe quem foi o segundo navegador a fazer o caminho marítimo para a Índia? E o sétimo Homem a ir à Lua? Pois! E o ditado diz ‘Não há amor como o primeiro’, ainda que estejamos destinados a ficar com o quarto ou o quinto. Idem para o primeiro beijo, o primeiro carro, a primeira vez… (piscar de olho maroto). O que eu também descobri foi que as primeiras vezes são também últimas vezes. São um ‘Olá’ e um ‘Adeus’ ao mesmo tempo. Cada novo som, brincadeira ou habilidade da Aura é também uma despedida da sua bebezisse. Com isto não quero dizer que gostava que ela ficasse bebé para sempre, até porque… Fraldas!! Certo?!? Mas quer dizer, sim, que, cada momento, cada primeira vez é preciosa, por mais mundana e previsível que seja. Talvez por tudo isto eu tenha esticado a minha licença de maternidade e as minhas poupanças ao máximo para estar em casa e assistir ao máximo de primeiras vezes possível. Para me ir despedindo aos poucos e para estar cá para cumprimentar a minha bebé, cada vez mais crescida. Sei que, inevitavelmente, irei perder algumas das suas estreias, mas para já posso ir adiando esse momento e apreciando o dia a dia à luz dos olhos da minha filha: como se visse tudo pela primeira vez.
PS – Admito que há uma primeira vez pela qual esperamos ansiosamente cá em casa: a primeira vez que a Aura decida dormir 8 horas seguidas. Resta-nos esperar…

 

Luísa Barbosa
Apresentadora e animadora de rádio

 

23:26