Não perco nem um milímetro do teu crescimento, filho! Conquistas uma coisa nova todos os dias e isso faz-me rebolar de orgulho. O meu ponteiro do amor está sempre a bater no máximo e ainda assim está sempre a aumentar.
Filho, contigo nasceu em mim aquela “luz”, que deve ser qualquer coisa que transborda do olhar ou sobressai no sorriso, mas que, basicamente, é um farol de emoções que gira cá dentro. E que chega a dar a sensação de falta de ar.
Contigo, filho, nasceram uns medos desconhecidos, como o de não regressar a casa, mas também, e essa sim é a melhor parte, os ensinamentos. Mesmo ainda não falando por palavras, expressas-te e eu entendo-te. E há momentos de partilha e cumplicidade só nossos que nos desligam do mundo e nos mostram que o mais importante está ali. O resto? O resto naquele momento é como se não existisse.
Sou movida a Amor e a maternidade não foi exceção. Bem sei que fui uma sortuda que em nada se pode queixar das 40 semanas que viveste dentro de mim. Obrigada filho, foste um fixe!!
Fora de mim há um ano e meio e o que já mudou. Em ti, em mim, em nós! O “nós”, a mamã e o papá, é agora mais forte. E tu encaixaste (em nós) que nem uma luva e facilmente te integraste na nossa (não) rotina. É certo que os nossos (não) horários, a nossa “nomadez” profissional que nos faz saltar de um estúdio para outro, de um teatro para outro, sem um local fixo por um longo período e que muitas vezes tudo se concentra em poucos meses de trabalho, para depois haver menos, outras vezes quase nada, ou até mesmo nada, torna tudo mais difícil de gerir. A “dose” não é certa. A não-rotina é a nossa rotina. E tu foste incrível ao incluíres-te nela sem te queixares. E é assim, as histórias repetem-se. Mal sabia eu que ia fazer contigo o mesmo que os teus avós fizeram comigo. Vens connosco para todo o lado e “tátá” (o teu “já está” agora). Confesso que adoro e tu és um bebé que fazes as delícias de qualquer um.
E mesmo com todas estas mudanças, mais um quarto para ti, uma cadeirinha no carro, brinquedos espalhados por toda a casa e às vezes uns pingos de sopa nas paredes, a prioridade da mamã e do papá é Tempo para ti. E esse, há sempre. Desde dias inteiros em passeios e brincadeiras, a dias com algumas brincadeiras, a dias com menos brincadeiras, há de tudo. Certo, certíssimo, é não te faltar um beijo de bom dia e outro de boa noite. Da mãe e/ou do pai. Para ti, filho, há sempre um dos dois, bem ou mal escolhemos a mesma profissão.
Mas não és nosso, temos a noção disso, por mais que custe e até faça pouco sentido nas nossas cabeças. De “meu” talvez tenhas a forma dos olhos e do nariz, mais umas quantas semelhanças evidentes ao pai… e o resto é TEU, és TU. És um ser humano no mundo e do mundo.
Tal como eu não deixei de ser eu. Pertenço a mim mesma, sendo que agora me sinto ainda mais completa. Passei a ter mais um papel na minha vida e não eliminei os outros. Por isso, aquilo que todos os dias te digo, em brincadeiras, quando cais sozinho, quando um amigo não é “justo” contigo, é que sejas Guerreiro. Quero que sejas um adulto feliz e por consequência forte para encarares o Mundo.
Deixo por escrito sentimentos e pensamentos que tiveram origem em ti, há muito mais que vais cá dentro, que cresce sem rumo e traz muitas perguntas. Deixo-te aqui algumas delas que possas vir a querer ver respondidas:
Tudo isto é intenso? Muito.
É exigente ser mãe? É.
Sou absorvente? Eu gosto que sejas.
Mas é saudável? Se é.
É único? Sem dúvida.
É divertido? Muito.
Vão dar-me irmãos? Pelo menos um, quem sabe mais.
(E teria de acrescentar muitas mais linhas a esta carta).
AMO-TE
A Mãe, Marta
Publicado em 20 Abr. 2017 às 22:27
Não perco nem um milímetro do teu crescimento, filho! Conquistas uma coisa nova todos os dias e isso faz-me rebolar de orgulho. O meu ponteiro do amor está sempre a bater no máximo e ainda assim está sempre a aumentar.
Filho, contigo nasceu em mim aquela “luz”, que deve ser qualquer coisa que transborda do olhar ou sobressai no sorriso, mas que, basicamente, é um farol de emoções que gira cá dentro. E que chega a dar a sensação de falta de ar.
Contigo, filho, nasceram uns medos desconhecidos, como o de não regressar a casa, mas também, e essa sim é a melhor parte, os ensinamentos. Mesmo ainda não falando por palavras, expressas-te e eu entendo-te. E há momentos de partilha e cumplicidade só nossos que nos desligam do mundo e nos mostram que o mais importante está ali. O resto? O resto naquele momento é como se não existisse.
Sou movida a Amor e a maternidade não foi exceção. Bem sei que fui uma sortuda que em nada se pode queixar das 40 semanas que viveste dentro de mim. Obrigada filho, foste um fixe!!
Fora de mim há um ano e meio e o que já mudou. Em ti, em mim, em nós! O “nós”, a mamã e o papá, é agora mais forte. E tu encaixaste (em nós) que nem uma luva e facilmente te integraste na nossa (não) rotina. É certo que os nossos (não) horários, a nossa “nomadez” profissional que nos faz saltar de um estúdio para outro, de um teatro para outro, sem um local fixo por um longo período e que muitas vezes tudo se concentra em poucos meses de trabalho, para depois haver menos, outras vezes quase nada, ou até mesmo nada, torna tudo mais difícil de gerir. A “dose” não é certa. A não-rotina é a nossa rotina. E tu foste incrível ao incluíres-te nela sem te queixares. E é assim, as histórias repetem-se. Mal sabia eu que ia fazer contigo o mesmo que os teus avós fizeram comigo. Vens connosco para todo o lado e “tátá” (o teu “já está” agora). Confesso que adoro e tu és um bebé que fazes as delícias de qualquer um.
E mesmo com todas estas mudanças, mais um quarto para ti, uma cadeirinha no carro, brinquedos espalhados por toda a casa e às vezes uns pingos de sopa nas paredes, a prioridade da mamã e do papá é Tempo para ti. E esse, há sempre. Desde dias inteiros em passeios e brincadeiras, a dias com algumas brincadeiras, a dias com menos brincadeiras, há de tudo. Certo, certíssimo, é não te faltar um beijo de bom dia e outro de boa noite. Da mãe e/ou do pai. Para ti, filho, há sempre um dos dois, bem ou mal escolhemos a mesma profissão.
Mas não és nosso, temos a noção disso, por mais que custe e até faça pouco sentido nas nossas cabeças. De “meu” talvez tenhas a forma dos olhos e do nariz, mais umas quantas semelhanças evidentes ao pai… e o resto é TEU, és TU. És um ser humano no mundo e do mundo.
Tal como eu não deixei de ser eu. Pertenço a mim mesma, sendo que agora me sinto ainda mais completa. Passei a ter mais um papel na minha vida e não eliminei os outros. Por isso, aquilo que todos os dias te digo, em brincadeiras, quando cais sozinho, quando um amigo não é “justo” contigo, é que sejas Guerreiro. Quero que sejas um adulto feliz e por consequência forte para encarares o Mundo.
Deixo por escrito sentimentos e pensamentos que tiveram origem em ti, há muito mais que vais cá dentro, que cresce sem rumo e traz muitas perguntas. Deixo-te aqui algumas delas que possas vir a querer ver respondidas:
Tudo isto é intenso? Muito.
É exigente ser mãe? É.
Sou absorvente? Eu gosto que sejas.
Mas é saudável? Se é.
É único? Sem dúvida.
É divertido? Muito.
Vão dar-me irmãos? Pelo menos um, quem sabe mais.
(E teria de acrescentar muitas mais linhas a esta carta).
AMO-TE
A Mãe, Marta
22:27