O constante medo de não estar à altura do desafio contra o instinto que nasce no exato momento em que o nosso filho(A) nasce. A grande aprendizagem é saber tirar o melhor proveito desta dádiva maravilhosa.Pois é meus caros, se houvesse um cartão de bingo de inseguranças sobre a paternidade, eu teria feito no mínimo linha. Mas não é disso que vou falar…
Venho expor um lado mais pessoal e que tenho partilhado a conta-gotas porque, só se passaram três anos.
Antes de me tornar pai, fui o filho mais novo do meu Pai Herói. Um pai com uma história de vida digna de um filme de Hollywood. Ele entrou na Universidade em Coimbra aos 17 para estudar medicina, ingressou na escola de oficiais da marinha nos Fuzileiros, onde se tornou herói de guerra (salvou uma pessoa de um campo minado, entre outros não menos honrosos feitos). Foi recordista de atletismo (sempre vi os quadros de honra e medalhas espalhados pela casa) e cantou no Orfeon de Coimbra, onde conheceu uma das suas grandes referências – Zeca Afonso. Mais tarde tornou-se num cirurgião ortopédico de prestígio. Foi meu porto de abrigo, meu médico e, tantas vezes, meu confidente. Para mim e para muitos familiares, amigos, colegas e até pacientes, que ainda hoje o elogiam, através de mensagens que recebo ou nas minhas atuações ou até quando publico uma foto com a minha filha.
Perante tamanho currículo, como devem calcular, a pressão que incuti em mim, desde tenra idade, foi assustadora. Desde muito pequeno fiz questão de acompanhá-lo sempre que possível nas visitas aos seus pacientes e aos compromissos protocolares.
Tinha gosto e vaidade em segui-lo e observá-lo. Houve dois momentos em que senti que realmente o poderia orgulhar, da mesma maneira que sentia orgulho nele. Um deles foi quando o vi ser o primeiro, no meio de uma enorme plateia, a levantar da cadeira para aplaudir-me de pé. O outro momento foi quando lhe pude dar duas grandes notícias numa só:
a de que iria ser pai e de uma menina, a primeira neta no meio de um clã de netos (todos rapazes) que já o deixavam babado. Mas infelizmente, por dois meses apenas, ele não conheceu a neta que certamente o deixaria ainda mais babado que eu. Ficou esse amargo no nosso caminho. Esse e a falta que me faz em poder ser filho, tirar dúvidas, queixar-me de dores (por vezes quase inexistentes) só para poder ouvir as suas palavras sábias e reconfortantes. De poder dar um beijinho de bom dia ou boa noite nas suas bochechas fofinhas, de sentir o seu conforto e de estar simplesmente ao pé dele.
Este é o legado que o meu Pai Herói me deixou. Eu tento não ser como ele. Quero ser tão bom ou melhor pai para a minha filha e enteado, mas à minha maneira. Aprendi muito com o meu pai, mas na verdade somos seres muito diferentes. Seguimos caminhos distintos embora os valores sejam os mesmos e nada me orgulha mais do que vê-los aplicados nos mais novos – os nossos descendentes.
A grande lição que tenho vindo a tirar da vida é que todos podemos ser super-heróis dos nossos filhos, cada um à sua maneira, para que nada falte, principalmente bons valores. Mas acima de tudo queremos é que sejam felizes e livres para tomar as próprias decisões, de preferência, sempre com os pais como um porto seguro e alguém que os possa discretamente moldar e conduzir de forma a tornarem-se pessoas felizes e realizadas. Isto de ser pai tem sido a grande experiência da minha vida. E tem sido a experiência que mais me amadureceu e mais me enche de amor! A paternidade é por vezes esgotante, mas sei que não a trocava por nada deste mundo.
Quanto ao meu Pai Herói, esse viverá sempre em mim e nas minhas memórias bonitas que irei passar aos meus para que jamais seja esquecido. Esteja onde estiver ele sabe que em todos os dias do pai lhe direi: “Txi amo meu herói! Agora é a minha vez de comandar o barco. Prometo que darei o meu melhor!”
FILIPE GONÇALVES
Músico e apresentador
Publicado em 5 Mai. 2020 às 16:19
O constante medo de não estar à altura do desafio contra o instinto que nasce no exato momento em que o nosso filho(A) nasce. A grande aprendizagem é saber tirar o melhor proveito desta dádiva maravilhosa.Pois é meus caros, se houvesse um cartão de bingo de inseguranças sobre a paternidade, eu teria feito no mínimo linha. Mas não é disso que vou falar…
Venho expor um lado mais pessoal e que tenho partilhado a conta-gotas porque, só se passaram três anos.
Antes de me tornar pai, fui o filho mais novo do meu Pai Herói. Um pai com uma história de vida digna de um filme de Hollywood. Ele entrou na Universidade em Coimbra aos 17 para estudar medicina, ingressou na escola de oficiais da marinha nos Fuzileiros, onde se tornou herói de guerra (salvou uma pessoa de um campo minado, entre outros não menos honrosos feitos). Foi recordista de atletismo (sempre vi os quadros de honra e medalhas espalhados pela casa) e cantou no Orfeon de Coimbra, onde conheceu uma das suas grandes referências – Zeca Afonso. Mais tarde tornou-se num cirurgião ortopédico de prestígio. Foi meu porto de abrigo, meu médico e, tantas vezes, meu confidente. Para mim e para muitos familiares, amigos, colegas e até pacientes, que ainda hoje o elogiam, através de mensagens que recebo ou nas minhas atuações ou até quando publico uma foto com a minha filha.
Perante tamanho currículo, como devem calcular, a pressão que incuti em mim, desde tenra idade, foi assustadora. Desde muito pequeno fiz questão de acompanhá-lo sempre que possível nas visitas aos seus pacientes e aos compromissos protocolares.
Tinha gosto e vaidade em segui-lo e observá-lo. Houve dois momentos em que senti que realmente o poderia orgulhar, da mesma maneira que sentia orgulho nele. Um deles foi quando o vi ser o primeiro, no meio de uma enorme plateia, a levantar da cadeira para aplaudir-me de pé. O outro momento foi quando lhe pude dar duas grandes notícias numa só:
a de que iria ser pai e de uma menina, a primeira neta no meio de um clã de netos (todos rapazes) que já o deixavam babado. Mas infelizmente, por dois meses apenas, ele não conheceu a neta que certamente o deixaria ainda mais babado que eu. Ficou esse amargo no nosso caminho. Esse e a falta que me faz em poder ser filho, tirar dúvidas, queixar-me de dores (por vezes quase inexistentes) só para poder ouvir as suas palavras sábias e reconfortantes. De poder dar um beijinho de bom dia ou boa noite nas suas bochechas fofinhas, de sentir o seu conforto e de estar simplesmente ao pé dele.
Este é o legado que o meu Pai Herói me deixou. Eu tento não ser como ele. Quero ser tão bom ou melhor pai para a minha filha e enteado, mas à minha maneira. Aprendi muito com o meu pai, mas na verdade somos seres muito diferentes. Seguimos caminhos distintos embora os valores sejam os mesmos e nada me orgulha mais do que vê-los aplicados nos mais novos – os nossos descendentes.
A grande lição que tenho vindo a tirar da vida é que todos podemos ser super-heróis dos nossos filhos, cada um à sua maneira, para que nada falte, principalmente bons valores. Mas acima de tudo queremos é que sejam felizes e livres para tomar as próprias decisões, de preferência, sempre com os pais como um porto seguro e alguém que os possa discretamente moldar e conduzir de forma a tornarem-se pessoas felizes e realizadas. Isto de ser pai tem sido a grande experiência da minha vida. E tem sido a experiência que mais me amadureceu e mais me enche de amor! A paternidade é por vezes esgotante, mas sei que não a trocava por nada deste mundo.
Quanto ao meu Pai Herói, esse viverá sempre em mim e nas minhas memórias bonitas que irei passar aos meus para que jamais seja esquecido. Esteja onde estiver ele sabe que em todos os dias do pai lhe direi: “Txi amo meu herói! Agora é a minha vez de comandar o barco. Prometo que darei o meu melhor!”
FILIPE GONÇALVES
Músico e apresentador
16:19