Crónicas

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Abraço de família

Abraço de família

A Teresa diz muitas vezes “abraço de família ” e naqueles bracinhos pequenos cabemos todos. A Teresa é a minha filha mais velha e a Mercedes a mais nova. Fazem-me sentir, todos os dias, que pertenço a uma família. Que faço parte de um núcleo duro de amor. 

Isto de ser Pai traz-nos muitas vezes incertezas. Na certeza de que amamos os nossos filhos mais do que a nós próprios, duvidamos das nossas escolhas e da rota que elas irão traçar na definição das suas personalidades.
Não queremos que subam às árvores com medo que se magoem mas não podemos protege-los sempre de cair. Nem queremos que tenham medo de tentar ou que duvidem das suas capacidades de atingir aquilo a que se propõem. Podemos é ensina-los a levantar, a sacudir a poeira e a tentar outra vez sempre que não resultar.
Num mundo em que as crianças dominam os tablets e os smartphones, não quero que as minhas filhas não saibam saborear um bom livro ou percam a emoção do virar de cada página e sentir o cheiro do papel. Por outro lado e naturalmente que entendam e dominem a tecnologia dos tempos em que vivem.
Espero que falem várias línguas mas que dominem o português e que saibam que “à” e “há” são muito diferentes e que o “ás” só existe num baralho de cartas.
Os miúdos podem fazer ballet, ginástica, futebol ou karatê mas também merecem tempo livre para procurar caracóis ou apanhar flores no jardim, para poderem saltar sem régua e correr sem cronômetro.
Acho fundamental termos tempo para jantar em família e conversarmos. É um privilégio nos dias que correm e nos horários que temos de cumprir. Mas os pais têm obrigação de desligar as televisões e querer saber como foi o dia na escola.
Os miúdos não ficam mimados porque os enchemos de beijinhos e abraços, porque os deixamos vir para a nossa cama ao domingo ou porque cedemos a um gelado ou batatas fritas de vez em quando.
O mimo é tão necessário como um castigo ou um raspanete. As crianças têm o direito a sentirem-se sempre amadas e protegidas e nós pais temos o dever de as guiar. Acredito que a coerência das nossas decisões lhes transmite segurança para um crescimento saudável e um desenvolvimento proveitoso.
Tentamos que o “eu quero” seja substituído por um “eu gostava”, que saibam sempre dizer por favor e obrigado, que peçam desculpa pelas asneiras e que aceitem que o “não” vem com a mesma frequência do “sim”.
Os pais são médicos, super-heróis, cantores, contadores profissionais de histórias, construtores de castelos e afugentadores de monstros.
Outras tantas vezes os pais são uma seca, aborrecidos e nada divertidos, que os obrigam a comer sopa e a tomar banho.
Os pais não sabem tudo mas os miúdos acham que sim e têm capacidade de perguntar 400 vezes seguidas o porquê das coisas, levam-nos muitas vezes a revirar os olhos. Depois vejo que a minha filha mais velha não se contenta com respostas pouco concretas e encho-me de orgulho daqueles olhos muito escuros, brilhantes e curiosos.
Esta semana, com a perspicácia, agilidade e graça que tanto a caracterizam perguntou-me se eu sabia como se dizia bolachas em espanhol. E respondeu logo “bolátchasss”!! Rimos muito e agora já sabe que se diz “galletas”.
No colo e no coração de um Pai cabem todos os filhos. E nos braços pequeninos deles nós cabemos inteiros.

 

Francisco sousa garcia
Ator e apresentador de televisão
Instagram: @francisco.garciaa
foto:© Carmo Sousa Lara

Publicado em 3 Mai. 2018 às 14:56

A Teresa diz muitas vezes “abraço de família ” e naqueles bracinhos pequenos cabemos todos. A Teresa é a minha filha mais velha e a Mercedes a mais nova. Fazem-me sentir, todos os dias, que pertenço a uma família. Que faço parte de um núcleo duro de amor. 

Isto de ser Pai traz-nos muitas vezes incertezas. Na certeza de que amamos os nossos filhos mais do que a nós próprios, duvidamos das nossas escolhas e da rota que elas irão traçar na definição das suas personalidades.
Não queremos que subam às árvores com medo que se magoem mas não podemos protege-los sempre de cair. Nem queremos que tenham medo de tentar ou que duvidem das suas capacidades de atingir aquilo a que se propõem. Podemos é ensina-los a levantar, a sacudir a poeira e a tentar outra vez sempre que não resultar.
Num mundo em que as crianças dominam os tablets e os smartphones, não quero que as minhas filhas não saibam saborear um bom livro ou percam a emoção do virar de cada página e sentir o cheiro do papel. Por outro lado e naturalmente que entendam e dominem a tecnologia dos tempos em que vivem.
Espero que falem várias línguas mas que dominem o português e que saibam que “à” e “há” são muito diferentes e que o “ás” só existe num baralho de cartas.
Os miúdos podem fazer ballet, ginástica, futebol ou karatê mas também merecem tempo livre para procurar caracóis ou apanhar flores no jardim, para poderem saltar sem régua e correr sem cronômetro.
Acho fundamental termos tempo para jantar em família e conversarmos. É um privilégio nos dias que correm e nos horários que temos de cumprir. Mas os pais têm obrigação de desligar as televisões e querer saber como foi o dia na escola.
Os miúdos não ficam mimados porque os enchemos de beijinhos e abraços, porque os deixamos vir para a nossa cama ao domingo ou porque cedemos a um gelado ou batatas fritas de vez em quando.
O mimo é tão necessário como um castigo ou um raspanete. As crianças têm o direito a sentirem-se sempre amadas e protegidas e nós pais temos o dever de as guiar. Acredito que a coerência das nossas decisões lhes transmite segurança para um crescimento saudável e um desenvolvimento proveitoso.
Tentamos que o “eu quero” seja substituído por um “eu gostava”, que saibam sempre dizer por favor e obrigado, que peçam desculpa pelas asneiras e que aceitem que o “não” vem com a mesma frequência do “sim”.
Os pais são médicos, super-heróis, cantores, contadores profissionais de histórias, construtores de castelos e afugentadores de monstros.
Outras tantas vezes os pais são uma seca, aborrecidos e nada divertidos, que os obrigam a comer sopa e a tomar banho.
Os pais não sabem tudo mas os miúdos acham que sim e têm capacidade de perguntar 400 vezes seguidas o porquê das coisas, levam-nos muitas vezes a revirar os olhos. Depois vejo que a minha filha mais velha não se contenta com respostas pouco concretas e encho-me de orgulho daqueles olhos muito escuros, brilhantes e curiosos.
Esta semana, com a perspicácia, agilidade e graça que tanto a caracterizam perguntou-me se eu sabia como se dizia bolachas em espanhol. E respondeu logo “bolátchasss”!! Rimos muito e agora já sabe que se diz “galletas”.
No colo e no coração de um Pai cabem todos os filhos. E nos braços pequeninos deles nós cabemos inteiros.

 

Francisco sousa garcia
Ator e apresentador de televisão
Instagram: @francisco.garciaa
foto:© Carmo Sousa Lara

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