Foi há 14 anos que B Fachada – compositor, multi-instrumentista, produtor e figura singular no panorama da música popular portuguesa do século XXI – entrou na órbita do universo infantojuvenil. “B Fachada é Pra Meninos”, álbum lançado em dezembro de 2010, apresentava um elenco de seres pensantes, atuantes, traficantes, o que se quiser, e que falavam na primeira pessoa. Sonhavam, contrariavam-se, aborreciam-se, morriam de amor a cada agosto, sentiam e reivindicavam de mais.

A ideia dos arranjos em versão caixa-de-brinquedos vinha de Pascal Comelade, mas o discurso de pernas para o ar evocava antes os discos para crianças de Toquinho e Vinicius de Moraes. Chamavam-se as coisas pelos nomes e invertiam-se valores dominantes de forma tão direta quanto: “Tó-Zé tu tem cuidado/ não sejas pau-mandado/ antes louco e malcriado que pensar só de emprestado”, “larga a sopa João/ não comas mais/ não dês ouvidos às mentiras dos teus pais”; “brincar/ fugir e desaparecer/ esquecer a escola e o dever/ fazer as coisas por prazer” ou “se a Manuela não puder deixar a mãe/ deixo eu a minha e parto sem ninguém”.

Hoje um concerto seu para crianças inclui temas com um intervalo de uma década mas com o mesmo olhar mordaz e incisivo, ainda mais pertinente e divertido precisamente por ter as crianças como interlocutores privilegiados.