Crónicas

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Um beijinho e um abraço

Um beijinho e um abraço

Eu sou Pai. Tenho a sorte de ser Pai. O privilégio de ser Pai. É a missão da minha vida. Parece cliché mas não é. É o sentimento mais forte e mais sincero: é Amor, é incondicional.

A Luisinha tem 4 anos e a Teresinha tem 2. São minhas filhas e da Joana, a minha mulher. (Já agora, obrigado Joana, sem ti nada disto seria possível). Continuando… São 6h da manhã, a Luisinha aparece no nosso quarto, pronta para começar o dia. Adormece cedo e levanta-se cedo. É calma, introspetiva e de uma criatividade sem limites. Claro que acordamos com ela embriagados de sono, mas hoje posso dormir mais um bocado. Hoje e, ultimamente quase sempre, é a Joana que faz o primeiro turno. Não há volta a dar, o dia já arrancou para não mais parar!
8h15 toca o despertador. Desligo-o, viro-me para o outro lado e levo com um pé na boca. Um pé pequeno, que me é familiar. E é nesse momento que me lembro vagamente do que aconteceu à noite. Deviam ser umas duas da manhã, a Teresinha acordou a chorar e só acalmou na nossa cama. Tem andado com ataques de tosse, desperta e pede o conforto dos pais. Tenho o sono pesado, a Joana acordou primeiro, e foi lá. (Já agora Joana, já disse que te admiro tanto?). Lembro-me de, a meio da noite, sentir um pontapé nas costas. Era alguém que se tentava apropriar da minha almofada. “Ah já sei, és tu Teresinha? Fica lá com o espaço todo que quiseres, filha. Quem manda aqui és tu e a tua irmã, mas se algum dia vos mostrarem este texto vou dizer que não fui eu que escrevi”, pensei para comigo. E voltei a dormir..
8h30 e a Joana acorda-me, relembra-me que estou a ficar atrasado. E isso é algo que não tolero. Levanto-me. Duche rápido para abrir a pestana, preparar o meu pequeno-almoço e toca a acordar a Teresinha, que ainda gosta mais do que eu de ficar na ronha. Adormece tarde, claro que depois acorda tarde. É desafiadora, gosta de festa, é um pequeno grande furacão. Hoje a Joana veste as duas para despachar. Não me inibo de fazer nada, mas demoro três horas (digamos assim) a vestir os collants às minhas filhas. Como é algo que raramente uso, não tenho a destreza necessária para fazê-lo. Enquanto tomo o pequeno-almoço a correr, vou calçando as duas, e acabo também de preparar o pequeno-almoço para a Joana levar. Feito. Quem diz que um homem não é capaz de desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo? Multitasking, minhas amigas e meus amigos! Está bem, admito, ao pé das mulheres somos uns meninos. Elas são muito melhores que nós, homens, e confesso que vivo bem com isso. A minha mulher sai para trabalhar, e as nossas filhas correm para a porta para se despedirem: “Um beijinho e um abraço, mãe!”, isto repetidamente. É lindo, mesmo!
9h15 e estamos prontos para sair. Vestir casacos, gorros, que está um gelo lá fora. Chamam o elevador. A Luisinha já chega ao botão do zero e tenho de ajudar a Teresinha a carregar também. O que uma faz, a outra imita, é sempre assim. Chegamos ao carro, arrancamos, chegamos à escola. Deixo primeiro a Teresinha.Vai despachada cumprimentar as educadoras, mas depois vem dar-me um beijinho e um abraço. E segue para as brincadeiras. De seguida deixo a Luisinha, que acaba por querer ficar mais tempo comigo, ou com a Joana, dependendo de quem a vai por a escola. Um beijinho e um abraço, fica no abraço mais tempo, mas lá acaba por ir.
Começamos os dias quase sempre assim, pelo menos nesta fase. Com um frenesim que é impossível materializar em palavras. Como será com o passar dos anos? Não sei, mas tenho um desejo: Que mesmo com o passar dos anos não percamos isto. Um beijinho e um abraço.

 

Convidado: Miguel Costa/Actor

Publicado em 21 Fev. 2017 às 0:30

Eu sou Pai. Tenho a sorte de ser Pai. O privilégio de ser Pai. É a missão da minha vida. Parece cliché mas não é. É o sentimento mais forte e mais sincero: é Amor, é incondicional.

A Luisinha tem 4 anos e a Teresinha tem 2. São minhas filhas e da Joana, a minha mulher. (Já agora, obrigado Joana, sem ti nada disto seria possível). Continuando… São 6h da manhã, a Luisinha aparece no nosso quarto, pronta para começar o dia. Adormece cedo e levanta-se cedo. É calma, introspetiva e de uma criatividade sem limites. Claro que acordamos com ela embriagados de sono, mas hoje posso dormir mais um bocado. Hoje e, ultimamente quase sempre, é a Joana que faz o primeiro turno. Não há volta a dar, o dia já arrancou para não mais parar!
8h15 toca o despertador. Desligo-o, viro-me para o outro lado e levo com um pé na boca. Um pé pequeno, que me é familiar. E é nesse momento que me lembro vagamente do que aconteceu à noite. Deviam ser umas duas da manhã, a Teresinha acordou a chorar e só acalmou na nossa cama. Tem andado com ataques de tosse, desperta e pede o conforto dos pais. Tenho o sono pesado, a Joana acordou primeiro, e foi lá. (Já agora Joana, já disse que te admiro tanto?). Lembro-me de, a meio da noite, sentir um pontapé nas costas. Era alguém que se tentava apropriar da minha almofada. “Ah já sei, és tu Teresinha? Fica lá com o espaço todo que quiseres, filha. Quem manda aqui és tu e a tua irmã, mas se algum dia vos mostrarem este texto vou dizer que não fui eu que escrevi”, pensei para comigo. E voltei a dormir..
8h30 e a Joana acorda-me, relembra-me que estou a ficar atrasado. E isso é algo que não tolero. Levanto-me. Duche rápido para abrir a pestana, preparar o meu pequeno-almoço e toca a acordar a Teresinha, que ainda gosta mais do que eu de ficar na ronha. Adormece tarde, claro que depois acorda tarde. É desafiadora, gosta de festa, é um pequeno grande furacão. Hoje a Joana veste as duas para despachar. Não me inibo de fazer nada, mas demoro três horas (digamos assim) a vestir os collants às minhas filhas. Como é algo que raramente uso, não tenho a destreza necessária para fazê-lo. Enquanto tomo o pequeno-almoço a correr, vou calçando as duas, e acabo também de preparar o pequeno-almoço para a Joana levar. Feito. Quem diz que um homem não é capaz de desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo? Multitasking, minhas amigas e meus amigos! Está bem, admito, ao pé das mulheres somos uns meninos. Elas são muito melhores que nós, homens, e confesso que vivo bem com isso. A minha mulher sai para trabalhar, e as nossas filhas correm para a porta para se despedirem: “Um beijinho e um abraço, mãe!”, isto repetidamente. É lindo, mesmo!
9h15 e estamos prontos para sair. Vestir casacos, gorros, que está um gelo lá fora. Chamam o elevador. A Luisinha já chega ao botão do zero e tenho de ajudar a Teresinha a carregar também. O que uma faz, a outra imita, é sempre assim. Chegamos ao carro, arrancamos, chegamos à escola. Deixo primeiro a Teresinha.Vai despachada cumprimentar as educadoras, mas depois vem dar-me um beijinho e um abraço. E segue para as brincadeiras. De seguida deixo a Luisinha, que acaba por querer ficar mais tempo comigo, ou com a Joana, dependendo de quem a vai por a escola. Um beijinho e um abraço, fica no abraço mais tempo, mas lá acaba por ir.
Começamos os dias quase sempre assim, pelo menos nesta fase. Com um frenesim que é impossível materializar em palavras. Como será com o passar dos anos? Não sei, mas tenho um desejo: Que mesmo com o passar dos anos não percamos isto. Um beijinho e um abraço.

 

Convidado: Miguel Costa/Actor

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