Crónicas

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A rotina, as férias e o regresso à normalidade

A rotina, as férias e o regresso à normalidade

Por muito que às vezes nos sintamos assoberbados pelas rotinas, a verdade é que no que respeita às crianças, são elas que nos conseguem dar a previsibilidade possível às tarefas que se impõem no dia a dia. Por muito agitados que sejam os dias e por muito intensas que sejam as birras, a rotina tem a vantagem de nos salvaguardar de que, se tudo correr como previsto, às 21h as nossas crianças já dormem que nem uns anjinhos e podemos fazer um “reset” para começar tudo de novo no dia seguinte.
Mas se é verdade que enquanto pais impomos rotinas às nossas crianças, eu na minha profissão não me posso salvaguardar nela. A maioria das vezes só conheço os meus planos de trabalho de véspera, o que significa nunca ter como garantido que consigo ir levá-las à escola ou tão pouco dar o desejado beijinho de boa noite quando chego a casa.
Quando chegam as férias de verão as rotinas caem por terra. Particularmente neste ano em que a mais pequena deixou de dormir a sesta, a nossa casa rapidamente conseguiu transformar-se num caos, como se tivesse sido invadida por uma dezena de diabos da tasmânia caídos no caldeirão do Obelix.
Os primeiros dias conseguem ser assustadores e tirar-nos o tapete da “normalidade”. De repente deixa de haver hora para acordar, os banhos já não precisam de ser dados a correr e o jantar pode esperar se não estiver pronto à hora do costume. A hora de deitar passa a ser negociada pela mais velha e as ocasiões sociais, em que as levamos connosco, alteram ainda mais a dinâmica familiar e a probabilidade de uma valente birra de sono ao final da noite.
Mas passado o choque inicial começamos a usufruir da descontração deste modo de vida. Os ataques de riso ao final do dia, os abraços espontâneos e apertados, as brincadeiras na piscina, as primeiras conquistas da mais pequena, as conversas surpreendentemente complexas da mais velha. Tudo saboreado sem pressa, com vontade de gravar na memória, pois sabemos que são momentos irrepetíveis.
E de repente, muito mais de repente do que imaginámos nos primeiros dias, as férias acabam e a rotina volta. Ficam só as saudades daqueles dias sem fim à vista, em que, apesar de extenuados com tanta energia, nos deitamos felizes e a desejar que as férias nunca acabem.

MANUEL MARQUES
Ator

Publicado em 12 Set. 2018 às 9:22

Por muito que às vezes nos sintamos assoberbados pelas rotinas, a verdade é que no que respeita às crianças, são elas que nos conseguem dar a previsibilidade possível às tarefas que se impõem no dia a dia. Por muito agitados que sejam os dias e por muito intensas que sejam as birras, a rotina tem a vantagem de nos salvaguardar de que, se tudo correr como previsto, às 21h as nossas crianças já dormem que nem uns anjinhos e podemos fazer um “reset” para começar tudo de novo no dia seguinte.
Mas se é verdade que enquanto pais impomos rotinas às nossas crianças, eu na minha profissão não me posso salvaguardar nela. A maioria das vezes só conheço os meus planos de trabalho de véspera, o que significa nunca ter como garantido que consigo ir levá-las à escola ou tão pouco dar o desejado beijinho de boa noite quando chego a casa.
Quando chegam as férias de verão as rotinas caem por terra. Particularmente neste ano em que a mais pequena deixou de dormir a sesta, a nossa casa rapidamente conseguiu transformar-se num caos, como se tivesse sido invadida por uma dezena de diabos da tasmânia caídos no caldeirão do Obelix.
Os primeiros dias conseguem ser assustadores e tirar-nos o tapete da “normalidade”. De repente deixa de haver hora para acordar, os banhos já não precisam de ser dados a correr e o jantar pode esperar se não estiver pronto à hora do costume. A hora de deitar passa a ser negociada pela mais velha e as ocasiões sociais, em que as levamos connosco, alteram ainda mais a dinâmica familiar e a probabilidade de uma valente birra de sono ao final da noite.
Mas passado o choque inicial começamos a usufruir da descontração deste modo de vida. Os ataques de riso ao final do dia, os abraços espontâneos e apertados, as brincadeiras na piscina, as primeiras conquistas da mais pequena, as conversas surpreendentemente complexas da mais velha. Tudo saboreado sem pressa, com vontade de gravar na memória, pois sabemos que são momentos irrepetíveis.
E de repente, muito mais de repente do que imaginámos nos primeiros dias, as férias acabam e a rotina volta. Ficam só as saudades daqueles dias sem fim à vista, em que, apesar de extenuados com tanta energia, nos deitamos felizes e a desejar que as férias nunca acabem.

MANUEL MARQUES
Ator

9:22