Ser Pai, é passar por uma transformação profunda que nos muda de uma maneira radical. Apreender essas novas coordenadas é um processo diário e um compromisso com uma espécie de “eternidade” e projeção num futuro que passa a ser pronunciado na primeira pessoa do plural: nós.
Não há livro, conselho, ou dica que nos consiga encurtar esse caminho. Esta já não é a história da nossa vida, é a história da vida deles. Ensiná-los a escrevê-la é a coisa que me faz mais feliz: o participar das horas de descoberta, birra, dependência, amor, é um privilegio que a nossa vida/tempus fugit vai fazendo esquecer.
Não sei o que o Fausto quer ser quando for grande. Nem ele. Ainda bem. Ele vai fazer 6 anos e este é o tempo para imaginar tudo o quanto ele queira, sem direções, ou responsabilidades de continuar o que quer que seja que os seus pais se meteram em novos.
Pensar numa vida que cresce em termos abstratos é impossível. Afinal, o amor de pais, será sempre o grande fator que separará infâncias memoráveis, daquelas que só queremos esquecer.
Já andámos de bicicleta, já jogámos à bola, já nadámos no mar, já o levei ao karaté e de todo este frenesim de escolhas, o que o Fausto prefere é andar à porrada comigo. Considerou as opções, a bicicleta está arrumada na garagem, ao passo que as suas luvas de boxe estão sempre disponíveis para esmurrar a minha cara com a sua força feita de carinho. Uma das suas brincadeiras preferidas é o “beijinho ou chapada”. Mais uma opção em que ele faz sempre batota e nunca dá o beijinho que lhe peço, ficando histérico de prazer quando me acerta uma bolachada com a sua pequena mão, dada com toda a força do Hulk.
Antes que achem que sou Pai saco de pancada, deixem-me recordar que o que eu e a Sónia queremos dar ao Fausto, muito mais que direções, são opções. Passamos a vida a escolher, e ajudar a escolher bem será talvez o melhor legado que possamos deixar.
A primeira coisa que me aconteceu quando fui pai é que deixei de ser filho. Isto é, o paradigma mudou e a minha vida deixou de se centrar em mim próprio, no meu trabalho, nas minhas viagens, cuidar de mim. Muitos pais desesperam para ter os filhos ocupados. Tempo para eles próprios. Eu quando viajo e estou meses fora de casa, sinto muito que seja assim. As crianças entram de manhã na escola e passam por toda a pressa da natação, do karate, do ballet, da sua agenda. Apesar de reconhecer o sentido de importância destas atividades, não as troco, nem eu, nem o Fausto por uma hora diária e sagrada de brincadeiras entre os dois.
Estou há um mês sem ver o meu filho. Sem levar um soco. Sem me enrolar com ele no chão e fazer um trenó de cobertores. Se penso agora, penso a dois, a três, com a Sónia enrolada no sofá a ver as nossas parvoíces. Esta soma de pessoas que se amam, fazê-la e compreendê-la, dominá-la é tudo que se precisa para ser um Pai a sério num mundo que sempre nos testa e que nos rouba a atenção.
Se o Fausto pudesse dava um grande soco nesta ausência toda.
Publicado em 19 Mar. 2018 às 15:26
Ser Pai, é passar por uma transformação profunda que nos muda de uma maneira radical. Apreender essas novas coordenadas é um processo diário e um compromisso com uma espécie de “eternidade” e projeção num futuro que passa a ser pronunciado na primeira pessoa do plural: nós.
Não há livro, conselho, ou dica que nos consiga encurtar esse caminho. Esta já não é a história da nossa vida, é a história da vida deles. Ensiná-los a escrevê-la é a coisa que me faz mais feliz: o participar das horas de descoberta, birra, dependência, amor, é um privilegio que a nossa vida/tempus fugit vai fazendo esquecer.
Não sei o que o Fausto quer ser quando for grande. Nem ele. Ainda bem. Ele vai fazer 6 anos e este é o tempo para imaginar tudo o quanto ele queira, sem direções, ou responsabilidades de continuar o que quer que seja que os seus pais se meteram em novos.
Pensar numa vida que cresce em termos abstratos é impossível. Afinal, o amor de pais, será sempre o grande fator que separará infâncias memoráveis, daquelas que só queremos esquecer.
Já andámos de bicicleta, já jogámos à bola, já nadámos no mar, já o levei ao karaté e de todo este frenesim de escolhas, o que o Fausto prefere é andar à porrada comigo. Considerou as opções, a bicicleta está arrumada na garagem, ao passo que as suas luvas de boxe estão sempre disponíveis para esmurrar a minha cara com a sua força feita de carinho. Uma das suas brincadeiras preferidas é o “beijinho ou chapada”. Mais uma opção em que ele faz sempre batota e nunca dá o beijinho que lhe peço, ficando histérico de prazer quando me acerta uma bolachada com a sua pequena mão, dada com toda a força do Hulk.
Antes que achem que sou Pai saco de pancada, deixem-me recordar que o que eu e a Sónia queremos dar ao Fausto, muito mais que direções, são opções. Passamos a vida a escolher, e ajudar a escolher bem será talvez o melhor legado que possamos deixar.
A primeira coisa que me aconteceu quando fui pai é que deixei de ser filho. Isto é, o paradigma mudou e a minha vida deixou de se centrar em mim próprio, no meu trabalho, nas minhas viagens, cuidar de mim. Muitos pais desesperam para ter os filhos ocupados. Tempo para eles próprios. Eu quando viajo e estou meses fora de casa, sinto muito que seja assim. As crianças entram de manhã na escola e passam por toda a pressa da natação, do karate, do ballet, da sua agenda. Apesar de reconhecer o sentido de importância destas atividades, não as troco, nem eu, nem o Fausto por uma hora diária e sagrada de brincadeiras entre os dois.
Estou há um mês sem ver o meu filho. Sem levar um soco. Sem me enrolar com ele no chão e fazer um trenó de cobertores. Se penso agora, penso a dois, a três, com a Sónia enrolada no sofá a ver as nossas parvoíces. Esta soma de pessoas que se amam, fazê-la e compreendê-la, dominá-la é tudo que se precisa para ser um Pai a sério num mundo que sempre nos testa e que nos rouba a atenção.
Se o Fausto pudesse dava um grande soco nesta ausência toda.
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